sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Líder do governo quer votar novo salário mínimo no Plenário do Senado na próxima quarta-feira

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Em entrevista à imprensa o líder do governo no Senado Federal, senador Romero Jucá (PMDB-RR), disse acreditar em uma vitória folgada da base do governo na votação do novo valor do salário mínimoEntenda o assunto . Ele informou que está colhendo assinaturas dos líderes partidários para que a proposta seja votada no Plenário do Senado na próxima quarta-feira (23).

- Estamos conversando com os líderes partidários, vamos conversar com todos os senadores que tenham algum tipo de dúvida ou colocação diferente e vamos tentar trazer a grande maioria dos votos para o governo - disse.

Jucá esclareceu que a proposta do governo aprovada na Câmara dos Deputados na noite de cria uma lei para uma política de reajustes do salário mínimo até 2015 e que o valor de R$ 545 para 2011 está de acordo com as regras estabelecidas na proposta. Depois que a lei estiver em vigor, disse Jucá, os reajustes anuais serão estabelecidos por decreto. Ele refutou a ideia de que esses decretos poderiam ser inconstitucionais.

- O salário mínimo deste ano e dos próximos anos está sendo definido por uma lei, o que o decreto vai fazer é explicitar o valor da correção monetária e o valor do crescimento do PIB. Portanto, o decreto é apenas o desdobramento da lei, não há incongruência ou inconstitucionalidade - afirmou.

O líder do governo no Senado adiantou que a base governista vai trabalhar para a rejeição de qualquer emenda que seja apresentada ao projeto enviado pelo Executivo. Disse ainda que a votação no Plenário do Senado deverá ser nominal e que a oposição já anunciou que apresentará destaques à matéria.

- Essa proposta é a melhor para o país. O governo está tranquilo, mas está trabalhando junto à base governista. Os partidos entenderam a gravidade do assunto, a responsabilidade, a importância de ter um ganho real e um planejamento em médio prazo do crescimento do salário mínimo. Estamos trabalhando com a base e acreditamos concretamente em uma vitória com uma margem grande de votos - afirmou Jucá.

Augusto Castro / Agência Senado
(Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)
terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Sarney diz que projeto da reforma política sai em 45 dias

[Foto:presidente do Senado, José Sarney]
O presidente do Senado, José Sarney, disse, nesta terça-feira (15), que a Comissão da Reforma Política, que será instalada no próximo dia 22 - data definida em acordo entre os membros - terá de cumprir impreterivelmente o prazo de 45 dias para elaborar um anteprojeto sobre o tema.

Sarney havia anunciado na que a comissão seria instalada nesta terça-feira (15), mas, em razão da solicitação de seus integrantes, os trabalhos terão início na próxima semana.

- Vamos atrasar em uma semana, mas o prazo de 45 dias vai ser impreterível - salientou.

Segundo o presidente do Senado, a comissão, que será presida pelo senador Francisco Dornelles (PP-RJ), debaterá temas para a elaboração de um anteprojeto a ser posteriormente examinado pelo Plenário do Senado.

Rodrigo Baptista / Agência Senado
(Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)
sábado, 12 de fevereiro de 2011

Previdência: especialista defende reforma no setor



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Em 21 anos, a despesa do Instituto Nacional do Seguridade Social (INSS) triplicou seu peso relativo na economia, passando a comprometer 7,2% do Produto Interno Bruto (PIB). Com esse crescimento, metade da receita líquida da União destina-se hoje à previdência (servidores inativos e INSS) e ao pagamento de benefícios assistenciais de prestação continuada.

Os números são citados pela consultora legislativa do Senado Meiriane Nunes Amaro como alerta para a necessidade de uma reforma na área. Especialista em previdência, tendo atuado como assessora direta dos relatores das reformas de 1998 (governo FHC) e 2003 (governo Lula), Meiriane Nunes reconhece que o tema é espinhoso, arrebanha multidões de adversários e tem pífia quantidade de defensores.

Por seu potencial de restringir direitos e vantagens, a reforma da previdência é pouco citada entre as necessárias para o país, mas, na avaliação da consultora, talvez se revele a mais urgente. Afinal, segundo ela, o Brasil, embora ainda seja um país jovem, tem despesa com previdência semelhante à de países com população envelhecida, como o Reino Unido. Com uma diferença: esses países enriqueceram antes de envelhecer.

Impacto

Os prognósticos demográficos, ou seja, as previsões sobre crescimento populacional, acendem a luz vermelha no sistema. De acordo com a consultora, a proporção de idosos (com mais de 60 anos) na população total do Brasil triplicará nos próximos 40 anos, passando de 6,8% para 22,7%.

- O impacto desse envelhecimento é enorme - avalia.

Como a previdência brasileira se pauta pelo regime de repartição, a população em idade ativa sustenta a inativa. Isso significa, segundo a consultora, que o número de pessoas ativas que sustentam cada aposentado ou pensionista deve cair dos atuais 6,45 para 1,9 em 2050.

- Em outras palavras, haverá cada vez menos pessoas trabalhando e sustentando o crescente número de idosos no Brasil - resume Meiriane Nunes.

Explosão

A consultora adverte que, se nada for feito agora, as despesas previdenciárias explodirão, "comprometendo o futuro das próximas gerações de brasileiros". O Brasil não envelhece sozinho, e várias nações já se encontram em situação crítica, mas, conforme Meiriane, estão reformulando seus sistemas previdenciários.

- É melhor aumentar agora os anos de contribuição em relação aos de aposentadoria, bem como reduzir um pouco a taxa de reposição do benefício em relação ao salário, do que ser forçado daqui a alguns anos a elevar muito as contribuições sociais e diminuir drasticamente o valor dos benefícios previdenciários - observa.

Experiências

As experiências desses países, acrescenta Meiriane Nunes, constituem importantes ensinamentos. Em primeiro lugar, diz ela, as aposentadorias nos países avançados se dão em idades bem maiores do que de aposentadoria por tempo de contribuição dos trabalhadores brasileiros da iniciativa privada (no mínimo, 54 anos para homem e 52 para mulher, de acordo com a consultora). Esses países também reduzem benefício concedido antes da idade mínima, mesmo que preenchidos o requisito de tempo de contribuição.

- Aqui, mesmo considerando a aplicação do fator previdenciário (que é um redutor do valor da aposentadoria em relação ao salário da ativa), um homem na mesma situação não terá qualquer perda monetária. Ou seja, sua aposentadoria equivalerá a 100% do salário.

Idade

Outra distorção apontada por Meiriane é quanto à aposentadoria por idade (aos 65 anos), para a qual se exigem apenas 15 anos de contribuição. Ela dá um exemplo: um homem que espere 50 anos para começar a contribuir para a previdência social poderá se aposentar aos 65 anos e receber o benefício por mais 16,3 anos, em média (considerando-se a expectativa de vida do brasileiro). No caso da mulher, seriam 15 anos de contribuição versus 19,1 anos de recebimento do benefício.

- É fácil perceber que a conta não fecha e será cada vez mais inconsistente, em vista dos prognósticos populacionais - acrescenta.

Pensão

No caso da pensão, segundo a consultora, a situação é ainda mais discrepante. Não há, por exemplo, nenhuma limitação relacionada ao tempo de casamento ou união, nem à renda do cônjuge sobrevivente, ao período de recebimento do benefício ou ao seu acúmulo com outros benefícios.

- Como resultado, nosso gasto com pensões é tão significativo que representa o segundo maior na estrutura de despesas do INSS e, em termos de participação no PIB, representa o triplo da média internacional.

Salário mínimo

Mas, de acordo com Meiriane Nunes, é na indexação do piso previdenciário ao salário mínimo que reside o maior propulsor da elevação das despesas com benefícios. Entre 1995 e 2010, o mínimo teve aumento real de 122%.

Ela explica que, por ser vinculado ao mínimo, o piso da previdência social elevou-se na mesma proporção. Situação idêntica aconteceu com os benefícios de prestação continuada da assistência social (que favorecem idosos e deficientes físicos), igualmente atrelados ao mínimo.

Como dois em cada três segurados recebem o piso, a consultora calcula, para cada R$ 1 de aumento do mínimo, uma elevação de despesas com aposentadoria e pensão da ordem de R$ 198 milhões, contra um acréscimo de receitas de apenas R$ 14 milhões - portanto, déficit de R$ 184 milhões.

Acrescentando-se a esse total os gastos com assistência social, a consultora chega à conclusão de que o déficit do INSS cresce R$ 230 milhões a cada R$ 1 de elevação do mínimo.

Djalba Lima / Agência Senado
(Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)
segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Élcio Braga o repórter apaixonado por biografias


Nascido em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, há 43 anos, o jornalista Élcio Braga, do Dia, é considerado um dos mais experientes repórteres da cobertura policial do Rio. Sua estréia, após se formar em 1987, foi no Jornal de Hoje, de sua cidade, mas o interesse pela profissão vem da infância, quando criava emissoras fictícias de TV e imaginava os programas que ia exibir.

Para ele, a reportagem de Polícia é simples, mas se tornou muito perigosa — “mesmo assim, acho bom começar na carreira pela editoria de Cidade”, comenta. Ao falar de violência, o repórter destaca a pressão psicológica que estressa a população e não poupa críticas às autoridades, devido à falta de políticas públicas que protejam efetivamente a sociedade da criminalidade.

Diz também que, com alguns pequenos ajustes, a imprensa cumpre um papel importante no processo de denúncia e esclarecimento dos atos violentos, melhorando ainda mais sua participação — “é preciso haver espaço também para se falar da realidade do agressor”, afirma Élcio, que também fala sobre sua prisão pela Polícia Federal, em 1999.


ABI Online — Sua opção pelo jornalismo foi vocação ou acaso?
Élcio Braga — Desde os 10 anos fazia grade de programação de TV. Criava emissoras fictícias e ficava imaginando que programas ia exibir. Também fazia à mão pequenos jornais e os distribuía na sala de aula. Isso tudo apesar de ser extremamente tímido.

ABI Online — Foi fácil ingressar na carreira?
Élcio — É mais simples começar como estagiário. Com dedicação, você acaba conquistando a confiança do editor e é contratado. A outra opção é mais dolorosa. Depois de formado, não se consegue mais entrar pela porta da frente nos grandes veículos. Parodiando um ditado muito usado por Brizola, a gente precisa comer o mingau pelas beiradas. A solução é buscar vagas em jornais de bairros ou do interior. Foi assim que aconteceu comigo. Comecei no Jornal de Hoje, de Nova Iguaçu. A remuneração não chegava a dois salários mínimos, mas aprendi muito.

ABI Online — E depois?
Élcio — Após uma rápida passagem pela assessoria de um político da Baixada, comecei a cobrir a madrugada no Dia, em 1991. Em seguida, fui para a editoria da minha região, que produzia material diário para a edição metropolitana e tinha um caderno dominical. Hoje estou na Cidade, onde faço muitas matérias de fundo social. Mas confesso que me interesso mais por comportamento e biografias.

ABI Online — Pertencer à nova geração de repórteres não o impede de se destacar entre os colegas mais maduros, com muitas matérias nas finais de importantes prêmios de jornalismo. A que você credita isso?
Élcio — O repórter de impresso tem um desafio muito maior do que os colegas de outros meios. Se você mostra uma imagem em movimento e joga um áudio, já cria um clima para despertar a atenção. No texto, que nem sempre é acompanhado sequer por foto ou ilustração, o que nos resta é o modo de repassar a informação. Sempre gostei de abrir as matérias de um modo diferente, mas, com a permanente redução de espaço nos jornais, temos cada vez menos chance de usar a criatividade no lead e no resto do texto.

ABI Online — Houve alguma reportagem mais marcante?

À frente da caminhada dos sem-terra


Élcio — Gostei muito de uma em que acompanhei a primeira caminhada dos sem-terra a Brasília. Foram mais de dez dias ouvindo histórias comuns. Escrevi aportagem sob a ótica de um gorducho, o Pedrão, um dos cariocas do grupo. Preferi não entrar na questão política da causa, mas mostrar como eles viviam e o que era participar daquele movimento. O Pedrão era lerdo e sempre chegava atrasado. Ficava no fim da fila para comer e, por isso, nunca recebia carne. Foi também um dos únicos que não “pegou” uma baiana que saía com todo mundo na caminhada. Fiz também uma matéria sobre tortura nos morros cariocas, bem antes do caso Tim Lopes. Os traficantes contavam, rindo, tudo o que faziam com suas vítimas. No final, me convidaram para presenciar o que iam fazer com um inimigo.

ABI Online — O relatório "Mídia e violência — Como os jornais retratam a violência e a segurança pública no Brasil", da Universidade Cândido Mendes, diz que os textos da Repol (reportagem de Polícia) ainda são “superficiais e descontextualizados". Há exagero nessa afirmação?
Élcio — Para deixar de ser superficial, é necessário mais e mais espaço. O mundo está corrido demais. Nem sempre podemos nos aprofundar nos assuntos. Eventualmente, os jornais fazem uma abordagem mais detalhada nas edições de domingo. No dia-a-dia, realmente as reportagens são mais, digamos, inocentes ou reféns do tempo, aceitam as versões oficiais.

ABI Online — Alberto Dines, Diretor do "Observatório da Imprensa" diz que se vê “uma ostensiva diminuição e burocratização da cobertura policial" num momento de crescimento da violência. Como analisa essa crítica?
Élcio — É verdade, a violência cresceu muito, o que deveria estimular os jornalistas a investir na apuração mais detalhada. O repórter precisa ser cada vez mais extraordinário. Quando comecei, em 89, chacinas com três ou quatro mortos davam manchetes. Hoje, muitas vezes nem os jornais populares noticiam tais crimes. O caso João Hélio deixou todos estupefatos; a gente tinha perdido a capacidade de se horrorizar. E a banalização foi jogando muitas matérias para as colunas de notas curtas.

ABI Online — É preciso passar pela Geral, principalmente pela Repol, para se tornar um bom repórter?
Élcio — Jornalismo é uma profissão em que as regras estão cheias de exceções. Mas é muito proveitoso para o estagiário ganhar experiência nas matérias de Polícia, em que se aprende o básico da reportagem, como identificar rapidamente o lead, pois os fatos não são tão complexos. Imagina começar numa editoria como a de Economia, com todos aqueles detalhes sobre taxas de juros e informações de bastidores? É claro que hoje a Geral, sobretudo a Repol, assusta. Há realmente riscos e os profissionais se expõem — ainda que, na maioria das vezes, desnecessariamente. Já cheguei em muitos lugares sob aplausos da multidão. Entrava em favela sem problemas, sentia-me seguro por ser repórter. E não faz tanto tempo, no início dos anos 90 ainda era assim. Agora, tudo mudou.

ABI Online — Qual foi o impacto dessa mudança?
Élcio — Um amigo fotógrafo estava numa van que foi seqüestrada por bandidos, em Itaguaí. Sabe qual foi a primeira coisa que ele fez? Pegou o crachá e, com muito cuidado, escondeu-o debaixo do banco, para não ser reconhecido como jornalista. Eu e vários colegas já passamos por situações de perigo, nem sempre em matérias de denúncias. Uma vez, por exemplo, fui ao morro da Cachoeirinha (Zona Norte do Rio) para entrevistar um casal que estava junto há 50 anos e ia se casar num programa da Prefeitura. Os traficantes não esconderam a contrariedade com a minha presença e eu fui embora apressadamente.

Durante a visita do Papa

ABI Online — E como é lidar com esse tipo de situação?
Élcio — O que mais me impressiona é o rosto aterrorizado de parentes das vítimas; é difícil conviver com esse tipo de coisa. Há casos também em que temos de abrir mão da reportagem para não pôr outras pessoas em risco, entre outros motivos. Passei por momentos de tensão, mas não estive de cara para a morte. Sou cuidadoso. Penso muito em como seria a vida da minha filha e de outros parentes caso ocorresse algo comigo. É o que me dá mais medo.

ABI Online — Qual é a verdade das atuais reportagens policiais?
Élcio — A de uma sociedade que está assustada e paranóica com tanta violência. O “ninguém sabe, ninguém viu” impera. Até em off tem gente com medo de dar entrevista. Esse negócio de parar em sinal e ficar olhando para os lados mostra como estamos alucinados. Percebo isso, mais claramente quando vou fazer matérias fora do Rio e me dou conta de que não preciso ficar tão alerta. É um alívio e tanto.

ABI Online — Há quem diga que o volume de noticiário criminal aumenta o medo.
Élcio — Se isso ocorre, é positivo, porque é para ficar amedrontado mesmo. Acho até que a situação é mais grave do que os jornais retratam. Os números da violência são subestimados. Todos sabem disso. Muita gente não registra assaltos, muita coisa que chega às redações não pode ser investigada por dificuldades de acesso...

ABI Online — A cobrança da imprensa sobre políticas de segurança pública tem dado resultado?
Élcio — Sim. Ela pode gerar mais mobilização policial quando passa a relatar determinada modalidade de crime, por exemplo. O problema é quando a cobrança é generalizada: aí, sobra espaço para o discurso político e começa-se a pôr a culpa em outras gestões, a dizer que o problema é social etc.

ABI Online — Qual deve ser o comportamento da mídia?
Élcio — Exercer esse papel de fiscalização. Quando a imprensa não acompanha avidamente um caso, ele está condenado ao esquecimento e arquivamento.

ABI Online — As reivindicações da sociedade dividem-se entre as da elite e as das populações marginalizadas. O noticiário reflete essa divisão?
Élcio — Às vezes os meios de comunicação são elitistas e acabam defendendo o interesse da classe média, condenando as populações carentes. Houve uma época, por exemplo, em que os jornais questionavam as excursões de pessoas humildes para praias da Região dos Lagos, chamando-os de farofeiros. Alguns prefeitos chegaram a proibir a entrada dos ônibus desses excursionistas em seus municípios.

ABI Online — Esse comportamento não é preconceituoso?
Élcio — É claro que a mídia, como resultado da sociedade, tem conceitos e crenças difíceis de derrubar. Anos atrás, vi muitos colegas se negarem a fazer matéria com homossexuais. Quem sugeria pauta sobre o assunto virava alvo de piadas. E, quando algum ativista gay telefonava, o repórter que atendia passava a ligação para outro ramal, e isso ia se sucedendo em toda a redação. Quebrar o preconceito na imprensa é como derrubar a primeira peça numa fila de dominó.

Visita ao Haiti

ABI Online — Caco Barcelos, da TV Globo, diz que o profissional da Repol não lida com polícia e sim com injustiças sociais. Ele tem razão?
Élcio — Um caso recente chamou minha atenção. Na acareação dos acusados de matar o menino João Hélio, um colega levou um pontapé de um cinegrafista de TV por ter ficado perto de um dos bandidos no dia da prisão. Outros tentaram agredir os suspeitos. Um policial, surpreso, repreendeu os jornalistas.

ABI Online — É complicado apurar matérias em órgãos públicos?
Élcio — Nas delegacias, por exemplo, dependemos da boa vontade dos policiais. Alguns, com medo de punição, não passam nada. Mas isso não acontece só com a polícia. Uma vez solicitei o currículo escolar de um religioso envolvido em um baita escândalo. A Secretaria Municipal de Educação recusou, disse que era invasão de privacidade e por aí vai. Aleguei que, pela Constituição, eu tinha direito à informação, que era de interesse público. Recomendaram-me então um caminho cheio de burocracia, que levaria meses para dar algum resultado.

ABI Online — Cresce no País, principalmente no interior, o número de casos de agressão a jornalistas que denunciam corrupção. Como você vê a situação?
Élcio — Repórter não é assessor de imprensa. Em geral, não se compra jornal para se ler elogios sobre ninguém. Obviamente, as reportagens desagradam mais do que agradam. Há muitas ameaças. Muitas ficam só na esfera jurídica, o que é legítimo. O que precisamos é que elas sejam denunciadas com muito barulho, cobrando ações das autoridades, e não ter medo, divulgando mais e mais crimes. Quanto mais forte a imprensa parecer, menos ameaças teremos. Os veículos devem estar unidos nessa luta.

ABI Online — Em 99, você foi preso pela PF. Por quê?
Élcio — Parentes do porteiro do Galpão de Curas do médium Rubens Faria, o Dr. Fritz, denunciaram que policiais federais o haviam prendido com um flagrante forjado de posse de arma. À época, o médium estava envolvido em uma série de denúncias e alegava que era tudo armação da ex-mulher. Enfim, nesse rolo todo, prenderam o porteiro e fui à PF, na Praça Mauá, conversar com ele. Dei o meu nome e entrei. Nem estava gravando entrevista na cela, quando um policial me achou parecido com algum bandido e pediu meus documentos. Ficaram revoltados ao descobrir que eu era repórter e inventaram que eu os desacatara. Aí, pensei: será que o porteiro estava realmente armado? Quando estava sendo autuado, um policial disse em tom debochado: "Quero ver se ele tem coragem de pôr isso no jornal." No dia seguinte, saiu a matéria sobre minha prisão. Escrevi um artigo com o título: "Entrar na Polícia Federal foi mais fácil do que roubar doce de criança."

ABI Online — Como O Dia reagiu à sua prisão?
Élcio — Mandou advogados imediatamente e, como eu disse, noticiou a prisão com destaque. Fui embora com R$ 50 de fiança, que o jornal pagou. Na verdade, a irritação maior dos agentes era contra outro jornalista, que havia escrito uma série de matérias denunciando corrupção na instituição naquele período. Hoje a PF tem outra imagem na mídia.

Sônia Mele/SJSP

Diretora do SJSP entrega menção honrosa a Élcio


ABI Online — Já passou pela sua cabeça mudar de profissão?
Élcio — Já. Um dia, no início da carreira, procurei um gerente da Souza Cruz para ser vendedor de cigarro e ouvi dele o seguinte: "Como faxineiro na minha mpresa, você vai ganhar mais do que como repórter." Um colega que me acompanhava, no entanto, me garantiu que eu ia morrer velhinho, fazendo o que realmente gostava: ser jornalista. Resolvi continuar na profissão. Gostei dessa história do velhinho. Mas penso em, daqui a um tempo, me dedicar a documentários e biografias, sobretudo voltados para a internet. O vídeo na web vai crescer ainda mais nos próximos anos. O campo é vasto.

ABI Online — E enquanto esse momento não chega?
Élcio — Tenho filmado bastidores de algumas coberturas. Há cenas inusitadas de repórteres em ação, que geraram o envio de outras por muitos colegas. Um dos registros que fez mais sucesso foi o do fotógrafo Carlos Moraes gritando descontroladamente em Irecê, na Bahia, ao descobrir pererecas no seu quarto. Gravei o áudio do desespero e distribuí com outros vídeos no fim do ano.
quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

PAULO MELO É O NOVO PRESIDENTE DA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO RIO



Com 66 votos a favor e um contra, além de duas abstenções e uma ausência, a Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) elegeu o deputado Paulo Melo (PMDB) para a presidência da Casa. Junto com o deputado, eleito pela chapa única “O Parlamento de Todos”, também foram escolhidos os parlamentares que farão parte da Mesa Diretora que regerá os trabalhos da Casa pelos próximos dois anos. O primeiro vice-presidente passa a ser o deputado Edson Albertassi (PMDB) e o primeiro secretário, o deputado Wagner Montes (PDT). “Esse é meu maior presente na vida e agradeço minha mulher e filhos pelas inúmeras vezes que faltei como pai, por conta das necessidades deste trabalho que exige tanto de nós”, expressou o novo presidente do Parlamento fluminense, que fez ainda uma homenagem ao ex-governador Marcello Alencar, que estava no plenário. “Já era deputado antes do governador Marcello Alencar chegar ao cargo e continuo mesmo depois dele ter deixado a política, mas tudo o que construí no Parlamento devo a ele, por ter acreditado em mim”, frisou Paulo Melo.

O presidente destacou, ainda, a importância da divergência em um regime democrático e agradeceu aos que votaram contrário à chapa ou se abstiveram. “Agradeço, de coração, todos os 66 votos que recebi e mais o do deputado Pedro Augusto (PMDB), que estava ausente no momento da votação, mas que já havia manifestado seu voto favorável, em conversa anterior. Agradeço, ainda, os dois votos de abstenção dos deputados Marcelo Freixo e Janira Rocha (ambos do PSol) e o voto contrário da deputada Clarissa Garotinho (PR), que tem direito de discordar. Ter voto contrário é normal na democracia e é por ela que sempre trabalhamos”, ponderou o parlamentar. Durante seu discurso, Paulo Melo emocionou-se ao lembrar sua trajetória pessoal e política, que culminou no posto mais alto na hierarquia do Parlamento. “Cheguei nesta cidade apenas com um sonho, o de buscar emprego com dignidade para ter o que dar à minha família. Não tive a oportunidade que muitos tiveram, dormi até nas calçadas. Apenas aos 17 anos tive o fantástico aprendizado da leitura”, lembrou-se.

No Plenário Barbosa Lima Sobrinho, cujas galerias estavam lotadas com a presença de representantes de diversas cidades do Estado do Rio, que vieram demonstrar apoio à sua candidatura, o presidente chorou ao dizer que jamais imaginaria que fosse chegar à Presidência da Casa. “Meus pais nunca tiveram dinheiro para me dar um presente no Natal, mas me deram o que me trouxe até aqui: a conduta. Hoje tenho uma grande responsabilidade, e a maior delas será a de permitir que todos os que aqui representam a população tenham voz”, comprometeu-se. Ao lado do novo presidente, o deputado Albertassi disse que está disposto a fazer, desta gestão, um “marco de antes e depois de Paulo Melo”. “Para mim é uma gratidão e uma grande honra participar desta Mesa e trabalhar por este Parlamento”, ressaltou. Primeiro secretário da Casa, Wagner Montes destacou a importância de se trabalhar pela independência do Legislativo, e avisou que representará o povo. “Ser primeiro secretário será respeitar todos os 528.628 votos que recebi e não ser submisso a ninguém”, destacou.

(texto de Marcela Maciel)

Conheça a composição da nova Mesa Diretora (perfis abaixo):

Presidente: Paulo Melo (PMDB)
1º Vice-presidente: Edson Albertassi (PMDB)
2º Vice-presidente: Gilberto Palmares (PT)
3º Vice-presidente: Paulo Ramos (PDT)
4º Vice-presidente: Roberto Henriques (PR)

1º Secretário da Mesa: Wagner Montes (PDT)
2º Secretário: Graça Matos (PMDB)
3º Secretário Gerson Bergher (PSDB)
4º Secretário José Luiz Nanci (PPS)

1º Suplente: Samuel Malafaia (PR)
2º Suplente: Bebeto do Tetra (PDT)
3º Suplente: Alexandre Corrêa (PRB)
4º Suplente: Gustavo Tutuca (PSB)

Paulo Melo (PMDB) - Após receber 121.684 votos, o parlamentar chega ao seu sexto mandato. Nos últimos quatro anos, foi líder do Governo e presidente da Comissão Permanente de Constituição e Justiça. Também presidiu a CPI do Propinoduto, no mandato 2003/2006.

Edson Albertassi (PMDB) - Eleito com 83.254 votos para seu quarto mandato, o deputado tem atuação predominante no Sul fluminense, no município de Volta Redonda. Por duas legislaturas exerceu a função de presidente da Comissão Permanente de Orçamento.

Gilberto Palmares (PT) - Após receber 36.519 votos, o petista irá exercer seu terceiro mandato de deputado estadual. Ligado a movimentos sindicais, nesta legislatura, Palmares presidiu a CPI das Barcas e foi responsável pela Escola do Legislativo Fluminense.

Paulo Ramos (PDT) - Irá atuar em seu quarto mandato, após receber 39.023 votos. Também exerceu dois mandatos como deputado federal, tendo participado da Assembleia Constituinte. Presidiu da Comissão Permanente de Trabalho e foi vice da Comissão de Servidores.

Roberto Henriques (PR) - Ex-vice prefeito de Campos dos Goytacazes, ex-prefeito interino e ex-secretário de Governo daquele município do Norte fluminense. Em seu primeiro mandato como deputado estadual, Henriques recebeu 32.369 votos.

Wagner Montes (PDT) - Deputado mais votado, com 528.628 votos, o apresentador de televisão irá exercer seu segundo mandato no Parlamento estadual. Nos últimos quatro anos, esteve à frente da Comissão Permanente de Segurança Pública.

Graça Matos (PMDB) - Eleita com 61.294 votos, irá exercer seu quinto mandato. Nas duas últimas legislaturas, atuou como primeira secretária da Casa. Com trabalho predominante no município de São Gonçalo, é mulher do deputado federal Edson Ezequiel (PMDB-RJ).

Gerson Bergher (PSDB) - Eleito com 35.069 votos, o decano da Alerj chega ao seu quarto mandato. Marido da vereadora da capital Teresa Bergher (PSDB), também foi vereador da capital, tendo sido presidente da Casa. Na Assembleia, esteve à frente da 2ª Secretaria da Mesa.

José Luiz Nanci (PPS) - Médico anestesiologista, ele atuou como vereador por cinco mandatos em São Gonçalo, Região Metropolitana, com atuação voltada para a Saúde. Irá estrear no Parlamento fluminense, após receber 28.798 votos.

Samuel Malafaia (PR) - Irmão do Pastor Silas Malafaia, da Assembleia de Deus, retorna à Casa após atuação parlamentar durante o mandato 2003/2006, quando foi corregedor da Assembleia, presidente da Comissão de Saúde e vice da Comissão de Prevenção ao Uso de Drogas.

Bebeto (PDT) - O jogador de futebol, tetracampeão do mundo em 1994 e baiano de nascimento, irá exercer seu primeiro mandato como detentor de cargo eletivo no Parlamento fluminense. No último pleito, ele conquistou 28.328 votos.

Alexandre Corrêa (PRB) - Pastor da Igreja Universal do Reino de Deus, Corrêa é estreante no Parlamento fluminense e nunca exerceu cargos eletivos. Ligado ao senador reeleito Marcelo Crivella (PRB-RJ), Alexandre Corrêa chega à Assembleia Legislativa após receber 112.676 votos.

Gustavo Tutuca (PSB) - Filho do prefeito de Piraí, Arthur Henrique, o Tutuca. Estreante na Assembleia Legislativa, recebeu 44.015 votos. Também atuou como secretário municipal de Administração. Na Alerj, pretende lutar pela inclusão digital